Thursday, February 10, 2022

                  Cansada de procurar emprego pela nova cidade, Cristina viu um anúncio inusitado e lembrou que sempre teve vontade de fazer. Tomou coragem e decidiu ir atrás.              
                  No dia seguinte, ao chegar no ateliê, foi recebida por Emily, que parecia meio depressiva. Apesar disto, se apresentou rapidamente, pedindo para ela tirar a roupa e se sentar num banco rodeado de plantas. Disse também que tinha vinho, e que se ela quisesse, podia se servir à vontade. 
                   Cristina tomou algumas taças do vinho e a experiência foi ficando cada vez mais mágica. À medida que tirava uma peça de roupa, se posicionava de uma forma diferente no banco.
                   Todo o processo de preparação da artista foi despertando nela um curioso interesse. 
                   Já sem roupa e com medo de se sentir ainda mais exposta, Cristina tenta relaxar.  Ao ritmo do jazz, movimentos foram realizados no banco entre as folhagens.
                   Os flashes da câmera foram mais rápidos que os pinceis nas mãos de Emily. Ela teve que fazer a captura daqueles momentos naquela hora, não conseguiu esperar. As fotos ficaram tão perfeitas que pintou a necessidade de passá-las também para a tela.
                  Um pouco frustrada com o trabalho a que se submeteu, Cristina queria ser pintada, da forma que viu num filme, e não modelar para um ensaio fotográfico. Resolveu manter a calma, talvez seria só a primeira parte de um processo. 
                   Enfim, Emily começa a pintar. Pediu que a modelo ficasse parada numa posição
confortável. Cristina já conseguia imaginar como o quadro ia ficar só pelo ambiente em que se encontrava. Flores que nunca havia visto antes, folhas de um verde vivo, rosas de várias cores , lírios e orquídeas. O tempo parecia ter parado diante de tanta beleza. Ela já se sentia numa pintura. 
                    Finalizando o trabalho, a artista chamou a modelo. Cristina deu o mesmo sorriso que trouxe a inspiração de volta para Emily.
                  
                    
                  

                 
                   
                   
                  
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Saturday, February 05, 2022

Música mágica



                      José voltou ao Abrigo bem animado, mostrando para as freiras o pianinho que ganhara de Penélope, sua nova amiga.

                      Um casal de estrangeiros havia chegado ao Lar dos anjos e logo se interessou em adotar o menino que parecia estar tão encantado por um instrumento.

                     Depois de alguns dias, José tinha uma nova família, um novo nome e foi morar num novo endereço, bem distante dali.

                      Penélope foi convidada para tocar com o seu grupo fora do país. Nunca imaginou que a sua carreira sempre tão despretensiosa, pudesse levá-los para tão longe.

                      Ansioso para ver a apresentação de música brasileira no teatro, Paul queria poder mostrar para eles o seu trabalho. Quem sabe tocariam juntos algum dia?

                      O concerto foi iniciado com uma pianista muito bonita, de cabelos lisos, negros e brilhantes. O seu vestido com mangas esvoaçantes e coloridas dava um movimento especial à sua performance. Suas mãos bem posicionadas, dedos que atacavam com delicadeza as teclas do piano, magicamente tocavam uma música que despertava sentimentos adormecidos. Arrepiado com os acordes, Paul foi saindo da cadeira à francesa, e deu lugar ao José: o menino que numa das escapadas do Abrigo em que morava, foi atraído por um outro concerto, que acontecia na varanda de uma casa pequena, mas bonita. Onde a atração principal, tão simpática, lhe dera de presente o que lhe fez ser quem era hoje: percussionista da Orchestre de L’Ópera de Paris.

                        Ao terminar a apresentação, Paul foi ao camarim tentar conhecer os músicos. Eles o receberam muito bem, foram muitos gentis e até marcaram um próximo encontro. Paul ficou contente, mal podia esperar para vê-los de novo, principalmente a pianista.

                       Penélope parecia bem empolgada, com os cabelos a acompanhar o ritmo de uma música que Paul gostava muito. Ele não perdeu a oportunidade e começou a acompanhá-la também com a sua percussão. O som que eles fizeram naquele dia agradou a todos. Alguns dançavam e até pediram bis. Toda essa cumplicidade musical vinha além da nacionalidade em comum. Vinha também de um sentimento que havia novamente aflorado. Não demorou para surgir o EsPPetáculo. Nome do show que eles já ensaiavam para apresentar no Brasil.

                          José saiu do palco e foi pegar uma lembrança que tinha trazido para Penélope.

                       Ao abrir a caixa, Penélope voltou no tempo, ao tempo em que seu avô, maestro de uma orquestra sinfônica da sua cidade, ainda era vivo e, sempre orgulhoso, a fazia tocar diariamente. Não acreditou que tinha reencontrado o menino que um dia resolveu desviar o seu caminho e parar, só para lhe prestigiar. Sabia que já conhecia aquele jeito de olhar, de sorrir e de aplaudir do Paul...ele era o José! Não foi por acaso que ela lhe deu um dos seus pianinhos quando pequena.

               Espantada com o que a música estava lhe proporcionando, Penélope ficou sem palavras, e abraçou o José, que lhe agradeceu pelo gesto que marcou a sua vida.

               Como se seguissem uma coreografia ensaiada anos atrás, embalados por uma incrível sintonia, Paul e Penélope se entregaram à magia daquele momento.