Saturday, April 06, 2024

Pequenos terremotos

De repente, enquanto as crianças estavam se divertindo ao som de  "Jump, jump jump jump..." no carpet, a professora percebeu que não eram só as crianças que estavam se movendo na sala. Primeiro a casinha de bonecas com os seus personagens tremendo no sofazinho, as panelinhas da cozinha no Dramatic Play deram leves mexidas e a bandeira deste país pendurada perto do quadro por pouco não caiu. A decoração para o Spring Time foi um pouco prejudicada com uma das flores despetalada. Uma butterfly sem uma das asas. Uma dos papéis coloridos do rainbow pendurado sobre a mesa foi derrubado. 
Um prédio de blocos recém-construído teve sua estrutura abalada mas o pequeno arquiteto pensou que foi o colega que estava ao lado montando o seu airplane. O que tinha a mania de usar os blocos como armas tinha faltado. 
As crianças, pelo visto, não sentiram nada. E como poderiam sentir? Se elas também fazem parte daquilo? Elas têm o poder natural de mexer com tudo. Fazem tremer o mundo de todos. Podemos ficar completamente sem chão apenas com uma perguntinha delas. Uma observação. O rápido perdão. São pequenos terremotos diários de emoção. 

Thursday, March 28, 2024

Doce Maya


Desde pequena foi avisada que talvez um dia teria a sorte ou o azar de ser levada para um lugar chamado escola. Seria exibida para pequenos e curiosos estudantes. Alguns teriam medo dela, mas a professora os deixaria mais tranquilos. 
Enquanto construía a sua teia, foi surpreendida não por uma mosca ou mosquito, mas por um plástico a envolvendo. Desta vez a presa era ela. Lembrou do aviso. Achou que ficaria totalmente sufocada, mas conseguia respirar graças a uma pequena abertura na parte de cima do invólucro.

 Acordou no dia seguinte numa sala colorida e cheia de olhos lhe observando com a ajuda de lupas. Apenas uma criança, a Grace, nem chegou perto, dizendo com um olhar assustado que tinha muito medo. De longe, Grace só ouvia atentamente a professora lendo a história sobre aranhas, enquanto ia mostrando a pequena criatura para a turma. 

Foi quando a menina que parecia ser a mais doce, do nada, deu um tapa bem em cima do animalzinho de oito patas. E nem deu tempo dele usar o poder dos seus quatro pares de olhos para tentar escapar.  

Todos ficaram boquiabertos. 

- Maya, por que você fez isso? 
- Ela estava se movendo. 
- Sim, claro -ainda impressionada falou a professora - Ela estava viva, Maya. Agora, ela não mais se moverá. 

Maya não deu nenhum sinal de arrependimento. Pelo contrário. Ficou aliviada. Disse que foi a sua mãe que havia lhe ensinado. 

Grace lentamente foi se aproximando. E vendo a aranha imóvel, ao constatar que ela estava mesmo morta, seu olhar que antes era assustado, ficou de lágrimas marejado.