Wednesday, July 27, 2022

Vacationland

 


Olho para o acampamento ao lado, e vejo uma barraca pequena, uma bicicleta moderna e numa rede, dormindo, o que me pareceu ser um jovem atleta, daqueles mochileiros que curtem mesmo uma grande aventura. Junto com o ronco forte do vizinho encasulado pela rede, escutei meu marido falando: - Ele deve estar mesmo cansado. Vi quando ele saiu para pedalar... o sol ainda nem tinha nascido. No chão, um par de tênis bem sujo, um boné e uma garrafa já sem água.





Fomos dar um passeio pela Vacationland, e descobrimos os motivos pelos quais Maine era conhecida dessa forma. Ela realmente é uma cidade feita para as férias. Ainda mais para quem não dispensa uma boa praia e tudo o que vem junto dessa sempre mágica experiência. Passeio de barco, pescaria, farol antigo com a presença de gaivotas... E uma culinária que só de lembrar ainda sinto o cheiro e o sabor dos deliciosos frutos do mar servidos das mais diversas maneiras.

No centro da cidade, tudo é do oceano. Decorações nos formatos de todos os seres marinhos reais e também imaginários. Conchas presentes em cortinas, porta-retratos, espelhos, guirlandas, brincos, pulseiras, colares... peixes, sereias, lagostas, caranguejos, siris, focas, polvos, águas-vivas, baleias, entre tantos outros animais aquáticos em tantos objetos, espalhados pelas lojas e pelas ruas. Pelo menos uma concha e uma estrela do mar de lá, a nossa casa também vão decorar.

Ao voltar para o acampamento, pude ver o vizinho que antes dormia na rede. O jovem atleta tinha cabeça e barba brancas, a pele já bem enrugada... Cheguei até a me perguntar se teria sido ele mesmo que saiu antes do sol nascer para pedalar, ou seria o seu pai, ou avô? Percebi que o mochileiro era ele, sim. E já estava pronto, todo equipado, para sair pedalando, firme e forte, rumo ao desconhecido outra vez. Constatei também, que quando se tem uma alma jovem, atleta e apaixonada por grandes aventuras, o corpo, de alguma forma, resolve prazerosamente, acompanhá-la.









Sunday, July 10, 2022

Bandeira diferente


         Luiz pintava de vermelho o retângulo. Olhei para ele e disse:

- Ei, Luiz! Você está pintando a nossa bandeira de uma  forma diferente. Está usando o vermelho ao invés do ver... – nesse momento me veio que ele poderia ser daltônico. Tentei disfarçar, pensar num modo melhor, mais cuidadoso de me dirigir a este aluno que sempre fora tão atencioso e inteligente.

- Hum... Como está linda a sua bandeira, Luiz!

- Gostou mesmo?! – Ele perguntou meio desacreditado.

- É... Sim, gostei. Por que a surpresa? Quer falar algo sobre a sua pintura?

- Eu não estava achando o lápis de cor verde, comecei a pintar o retângulo com o vermelho. Achei que combina melhor com o que está acontecendo com o Brasil. – Respondeu ele um pouco tristonho.

E eu fiquei sem ação, sem palavras ao perceber como uma criança de apenas dez anos conseguiu me deixar também vermelha, ruborizada!

Luiz continuou:

- Acho que o azul dos mares continua, e do céu também. O amarelo do sol, das riquezas...mas o verde que seria das matas, verde esperança como diz minha mãe quando tem que escolher uma cor. Acho que esse verde já está acabando.

             - Mas, Luiz! Você acha mesmo que o nosso país não tem mais salvação? Não, você não pode perder as esperanças! – Tentei passar uma mensagem positiva.

- Não perder as esperanças? Como, se já se perderam tantas vidas?

Em estado de choque, eu quase amarelei, com medo do que poderia ouvir, mas me atrevi a perguntar:

- Então, o vermelho que você pintou seria...?

- O vermelho pode ser um outro tipo de verde. Uma esperança que pode nascer de novo, pode brotar! – Falou Luiz bem animado.

 Perplexa, eu fiquei olhando pra ele, e analisando o que ele tinha explicado. Vi que até chegava a fazer sentido. E como uma apreciadora da criatividade, dos anúncios que chamam a atenção pela forma simples, enxuta e genial de prender o público, não resisti e imaginei como seria uma propaganda de um novo candidato. Um salvador para a nossa pátria. Ou uma heroína, tipo fênix, ressurgindo das cinzas para uma nova era, um novo recomeço.

Tentando mais uma vez me convencer da sua nova visão de esperança, Luiz soltou mais um poderoso argumento:

- Lembra quando plantamos aquelas sementinhas vermelhas, e quando a gente menos esperava, brotaram as plantinhas verdes? As que hoje estão ali, florindo, perto da janela? Então! – concluiu o meu mestre Luiz. Depois dessa, eu só pude respirar fundo, olhar pra ele com carinho e sorrir.

 

 

 

 

Coleções 🗡️⚔️

 No jardim, enquanto brincava com as crianças, Julia, a nova babysitter, voltou no tempo. Lembrou do quanto ela foi feliz na sua antiga casa de veraneio. As aventuras no manguezal que ficava perto, os banhos na maré alta, com o pai e tios ensinando como mergulhar e flutuar na água.

- Hey, Julia! - Chamou o seu patrão Paul. – Amanhã traga roupa de banho. Vamos fazer uma pool party! It’s Summer!

Emily pula nos braços do pai que a abraça bem forte. O bebê chora e Julia vai trocá-lo. Pela janela do quarto ela vê uma cena estranha na piscina. O pai conduzindo a filha numa dança conhecida. Movimentos que alguém teria feito também com ela quando era um pouco maior que Emily. Na sua mente vieram passos inocentes mas que iam deixando de ser apenas uma dança. Ao reviver o que passou, Julia foi tomada por uma aflição que a fez rapidamente retirar Emily da água e salva-la daquilo. Paul se assusta com a atitude brusca da babá.

Em casa, Julia resolve dividir o que passou no seu trabalho com o marido. Ele faz pouco caso com a cena que ela viu, diz que ela está imaginando coisas por ter vivido algo parecido quando criança. Disse também para não desistir do emprego pois eles pagam bem e as crianças gostaram dela.

Julia escolhe o biquíni mais comportado para usar na tal pool party. Chegando lá o seu patrão já está na piscina tomando champanhe. Emily brinca no pula-pula e o bebê no carrinho.

Ao passar o protetor solar Julia é surpreendida com Paul lhe agarrando por trás. Ela tenta escapar e não consegue. Seu corpo que antes sentia nojo, que só queria distância daquele ser, começou a dar outros sinais. Emily se aproxima e eles são obrigados a parar. O olhar de Paul devora Julia. Ele toma mais champanhe e dá uma taça para a babá.

Indo para a água com a filha, Paul percebe que o bebê começa a chorar e se incomoda: - Stop crying! Or You’re gonna be the next one!

Julia não acreditou no que ouviu. Acalentou o bebê, o devolveu ao carrinho com o seu brinquedo favorito. Na mesa, ela viu os brinquedos favoritos do pai dele: sua coleção de facas. Pegou uma, entrou na piscina e também naquela dança. Perto de Paul, sentiu que ele estava muito excitado. Tirou Emily da água que correu para o pula-pula. Foi se aproximando vagarosamente dele, pegou a faca onde tinha escondido na parte de trás do biquíni, e facilmente cortou o membro do patrão. Paul deu um berro e antes que ele tentasse fazer alguma coisa, Julia dessa vez enfiou a faca no seu peito. Ele foi perdendo as forças e a piscina mudando de cor. Julia pegou as crianças e entrou na casa. Priscila, sua patroa chega e, vendo a cena, corre para dentro aos prantos. Abraça as crianças com Julia, agradecendo-a. Desesperada, lhe pede ajuda com o corpo do marido, e Julia impõe uma condição:

- Depois,  você também tem que ir na minha casa...e conhecer uma certa coleção de armas.