Luiz pintava de vermelho o retângulo. Olhei para ele e disse:
- Ei, Luiz! Você está pintando a nossa bandeira de uma forma diferente. Está usando o vermelho ao
invés do ver... – nesse momento me veio que ele poderia ser daltônico. Tentei
disfarçar, pensar num modo melhor, mais cuidadoso de me dirigir a este aluno
que sempre fora tão atencioso e inteligente.
- Hum... Como está linda a sua bandeira, Luiz!
- Gostou mesmo?! – Ele perguntou meio desacreditado.
- É... Sim, gostei. Por que a surpresa? Quer falar algo
sobre a sua pintura?
- Eu não estava achando o lápis de cor verde, comecei a
pintar o retângulo com o vermelho. Achei que combina melhor com o que está
acontecendo com o Brasil. – Respondeu ele um pouco tristonho.
E eu fiquei sem ação, sem palavras ao perceber como uma
criança de apenas dez anos conseguiu me deixar também vermelha, ruborizada!
Luiz continuou:
- Acho que o azul dos mares continua, e do céu também. O
amarelo do sol, das riquezas...mas o verde que seria das matas, verde esperança
como diz minha mãe quando tem que escolher uma cor. Acho que esse verde já está
acabando.
- Mas,
Luiz! Você acha mesmo que o nosso país não tem mais salvação? Não, você não
pode perder as esperanças! – Tentei passar uma mensagem positiva.
- Não perder as esperanças? Como, se já se perderam tantas
vidas?
Em estado de choque, eu quase amarelei, com medo do que poderia
ouvir, mas me atrevi a perguntar:
- Então, o vermelho que você pintou seria...?
- O vermelho pode ser um outro tipo de verde. Uma esperança
que pode nascer de novo, pode brotar! – Falou Luiz bem animado.
Perplexa, eu fiquei
olhando pra ele, e analisando o que ele tinha explicado. Vi que até chegava a
fazer sentido. E como uma apreciadora da criatividade, dos anúncios que chamam
a atenção pela forma simples, enxuta e genial de prender o público, não resisti
e imaginei como seria uma propaganda de um novo candidato. Um salvador para a
nossa pátria. Ou uma heroína, tipo fênix, ressurgindo das cinzas para uma nova
era, um novo recomeço.
Tentando mais uma vez me convencer da sua nova visão de
esperança, Luiz soltou mais um poderoso argumento:
- Lembra quando plantamos aquelas sementinhas vermelhas, e quando
a gente menos esperava, brotaram as plantinhas verdes? As que hoje estão ali, florindo,
perto da janela? Então! – concluiu o meu mestre Luiz. Depois dessa, eu só pude
respirar fundo, olhar pra ele com carinho e sorrir.
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