Sunday, July 10, 2022

Bandeira diferente


         Luiz pintava de vermelho o retângulo. Olhei para ele e disse:

- Ei, Luiz! Você está pintando a nossa bandeira de uma  forma diferente. Está usando o vermelho ao invés do ver... – nesse momento me veio que ele poderia ser daltônico. Tentei disfarçar, pensar num modo melhor, mais cuidadoso de me dirigir a este aluno que sempre fora tão atencioso e inteligente.

- Hum... Como está linda a sua bandeira, Luiz!

- Gostou mesmo?! – Ele perguntou meio desacreditado.

- É... Sim, gostei. Por que a surpresa? Quer falar algo sobre a sua pintura?

- Eu não estava achando o lápis de cor verde, comecei a pintar o retângulo com o vermelho. Achei que combina melhor com o que está acontecendo com o Brasil. – Respondeu ele um pouco tristonho.

E eu fiquei sem ação, sem palavras ao perceber como uma criança de apenas dez anos conseguiu me deixar também vermelha, ruborizada!

Luiz continuou:

- Acho que o azul dos mares continua, e do céu também. O amarelo do sol, das riquezas...mas o verde que seria das matas, verde esperança como diz minha mãe quando tem que escolher uma cor. Acho que esse verde já está acabando.

             - Mas, Luiz! Você acha mesmo que o nosso país não tem mais salvação? Não, você não pode perder as esperanças! – Tentei passar uma mensagem positiva.

- Não perder as esperanças? Como, se já se perderam tantas vidas?

Em estado de choque, eu quase amarelei, com medo do que poderia ouvir, mas me atrevi a perguntar:

- Então, o vermelho que você pintou seria...?

- O vermelho pode ser um outro tipo de verde. Uma esperança que pode nascer de novo, pode brotar! – Falou Luiz bem animado.

 Perplexa, eu fiquei olhando pra ele, e analisando o que ele tinha explicado. Vi que até chegava a fazer sentido. E como uma apreciadora da criatividade, dos anúncios que chamam a atenção pela forma simples, enxuta e genial de prender o público, não resisti e imaginei como seria uma propaganda de um novo candidato. Um salvador para a nossa pátria. Ou uma heroína, tipo fênix, ressurgindo das cinzas para uma nova era, um novo recomeço.

Tentando mais uma vez me convencer da sua nova visão de esperança, Luiz soltou mais um poderoso argumento:

- Lembra quando plantamos aquelas sementinhas vermelhas, e quando a gente menos esperava, brotaram as plantinhas verdes? As que hoje estão ali, florindo, perto da janela? Então! – concluiu o meu mestre Luiz. Depois dessa, eu só pude respirar fundo, olhar pra ele com carinho e sorrir.

 

 

 

 

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