Wednesday, December 22, 2021

Um sonho de encontro



A passagem para o outro plano não foi tão dolorida como ele imaginou que seria. Sofreu mais quando foi caindo a ficha ao descobrir que já não poderia conviver com a sua esposa, seus filhos e netos. Foi recebido por um grupo de pessoas vestidas de branco, algumas ele reconheceu, outras não. Eram como mentores, anjos, coisa assim. Pessoas com um semblante calmo, que transmitiam paz, amor e uma espécie de alegria, leveza de espírito.

Aos poucos e com a ajuda do grupo que o recebeu, Paulo foi se acostumando com a ideia de que já não pertencia ao mundo dos viventes, que teria realizado a passagem, chegara a sua hora daquela única certeza que temos na vida: que um dia iremos descansar, partir, morrer. E enfim ele começou a aceitar o fato.

Às vezes ele conseguia a permissão para fazer uma visita à sua antiga moradia. Ele entrava e fazia algumas atividades que costumava fazer. Ninguém podia vê-lo, mas ele via a sua família, e matava um pouco a saudade. Se incomodava quando alguém ainda sofria com a sua ‘perda”. Sofria junto, ficava inquieto, tentando mudar os pensamentos, a energia, com o auxílio dos integrantes do grupo iluminado. Eles realmente traziam luz quando Paulo era levado para a escuridão.

Um dia enquanto estava na cozinha da casa onde viveu, viu a sua neta mais velha se aproximar. Ela, num misto de susto e adorável surpresa, o chamou gritando e perguntou como isso poderia estar acontecendo. Como ela estava vendo o seu avô que já tinha falecido, ali, na sua frente e tão vivo? Paulo também não conseguia acreditar no que estava vendo! Ela estava mesmo conseguindo lhe enxergar? Ou seria apenas uma daquelas visões que ele tinha quando alguém sentia muito a sua falta? não, as visões não se pareciam nada com a cena que ele estava presenciando. Sua neta não estava triste, estava alegre ao vê-lo! Emocionado e curioso, olhou para a mulher vestida de branco sentada à mesa da cozinha. Essa mulher com um ar sério e que inspirava total confiança lhe falou: - Sim, Paulo. Agora, ela pode lhe ver.

Com uma felicidade imensa estampada no rosto, Paulo abraçou forte a sua neta mais velha, sem deixar de perceber o quanto ela havia crescido: Está quase do meu tamanho! ...

Ainda sentindo o amoroso abraço do seu avô, Luciana abre os olhos e fica um tempo na cama lembrando daquele reencontro. Junto com essas lembranças vieram também as idas aos parques de diversões com ele. O jeito que ele a sentava no cavalo do carrossel por ela ser uma mocinha, as risadas com os palhaços nos circos, sendo que a maior diversão dele era ver seus netos felizes. Memórias de uma infância mágica. Momentos que mais pareciam sonhos. Assim como foi esse último encontro.


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