Sabia de cor a história de quase todos os santos. Acreditava em todos eles. Era incrível uma fé tão grande e contagiante. Todo santo dia ele fazia questão de contar uma história juntamente com o milagre correspondente.
São José, Santo Antônio, Santo Expedito, São Judas Tadeu, São Raimundo, São Francisco, São Jorge, São Bento... Santa Rita, Santa Teresinha, Santa Bárbara, Santa Cecília, e todas as Nossas Senhoras. Todo problema que os frequentadores da paróquia apresentavam, todas as vezes que alguém lhe pedia ajuda, ele aconselhava rezar para determinado santo e dava a certeza de que assim a solução estaria a caminho.
Faltando pouco para enfim se tornar padre, foi para o quartinho da sua casa, onde escondia pinturas, textos, e até fitas cassete com músicas que gravou. Resolveu mostrar tudo para um amigo de longa data. Gabriel, surpreso ao ver todo aquele belo material, lhe disse:
- Mas, João... Eu não sabia o quanto que você é talentoso!
- Eu, talentoso? – Perguntou desacreditado o seminarista.
- Sim, você não vê?? Pra mim você é um artista! – Anunciou-lhe o amigo Gabriel.
Emocionado, João olhou para as imagens de tantos santos que tinha. Elas costumavam ser a sua plateia. Somente elas haviam assistido às suas apresentações.
Mas a devoção daquele público infelizmente não era o suficiente. Não para Gabriel, que imediatamente pegou o celular e começou a tirar fotos. Saiu registrando as pinturas, os textos. Conseguiu achar o gravador antigo e pôs algumas fitas para tocar. Gostou tanto da voz de João a cantar, e também das músicas. Quem diria que aquele amigo sempre tão calado, tímido, que se soltava e ficava tão atraente quando tomava umas taças do sangue de Cristo, fosse dono também desses atributos.
- Você deveria ter fé também no seu trabalho.
- Mas eu tenho- falou João - E vou me realizar sendo padre.
- Você pode unir as duas atividades, ser um padre artista. – Aconselhou Gabriel.
Olhando novamente os textos escritos por João, Gabriel lembrou de umas cartas que recebeu certa vez, de uma suposta admiradora secreta. As cartas têm poesias e desenhos de paisagens parecidas com as que estavam ali...
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