Sunday, January 09, 2022

Grand finale sem Snow




 Além de pedir pessoalmente quando foi tirar foto com ele no shopping, Aninha também escreveu uma cartinha:

“Oi, Papai Noel! Queria lhe dizer que fui uma boa menina durante este ano. Pode perguntar aos meus pais. Tenho certeza que eles vão confirmar. Meus irmãos também. Gosto de cantar, dançar, e mesmo quando estou muito fraca, com febre, e dor, procuro ficar feliz.

Na nossa casa apareceram uns ratos, e eu me assustei muito quando os vi. Tanto, que minha mãe prometeu que eles iriam embora. Fez uma armadilha fatal para os roedores. Pena que quem caiu foi o Gizmo, nosso pequenino chihuahua. Só de lembrar me dói. Ele ficou tremendo e foi se esconder embaixo da minha cama. Deve ser porque me viu uma vez fazer isso quando estava com medo. E ficou perto de mim como se estivesse me consolando, me dando apoio, não sei. Só sei que me ajudou, me fazia bem a companhia dele. Agora, já não faz. Ele se foi. Meu irmão disse que nem parecia ser mais ele. Não tinha aquela alegria, não tinha nenhum sinal de que era o nosso Gizmo. E realmente não era. Porque na mesma noite sonhei que ele saltitava numas nuvens. Ele estava brincando no céu. No céu dos cãezinhos. Acordei lembrando da cena, lembrando dele, de tudo que a gente fazia juntos e chorei um pouco, mas foi também de saudade.

O que eu quero de presente de Natal é um outro animalzinho.

Beijos, Aninha.”

Ao ler a cartinha da menina tão magrinha e de lencinho florido na cabeça, Seu Manoel se sensibilizou. Imediatamente lembrou da Angel, gata da sua vizinha, que teve filhotes.

Na noite de Natal, Aninha estava ansiosa. Embaixo da árvore já branca de neve como o seu pai falou, junto aos outros embrulhos, tinha uma caixa de sapato que se mexia. Ela foi correndo ver o serzinho, que colocou a cabeça alva com pequeninas manchas pretas, para fora da caixa. -Snow!- Aninha gritou já o batizando, e ele pareceu ouvi-la, pois caiu rolando e parou bem próximo aos seus pés. “Papai Noel realizou o meu desejo!” disse a menina encantada, agarrando o seu mais novo bichinho. A alegria dela contagiava a todos. Incrível como um corpinho tão franzino e sofrido conseguia ficar tão animado. A família toda estava sorrindo ao ver Aninha tão feliz, a cantar e a dançar. Viveram um Natal realmente mágico. Vestida de estrela, usando um lencinho brilhante na cabeça, Aninha se apresentou num palco improvisado. Tinha irmãos que faziam um bom trabalho de produção. Na plateia estavam seus amigos e vizinhos, inclusive o seu Manoel, radiante por ver que ela gostou do presente. Snow aparecia do nada e dava um brilho a mais ao pequeno espetáculo. Devido ao sucesso, a temporada foi estendida. Depois do Natal, o show da Aninha teve que continuar.

 Ao sair de cena após uma das performances mais aplaudidas, Aninha foi buscar seu gato que naquele dia não saiu debaixo da cama dela. Preocupados com a demora da filha, seus pais entreolharam-se, deram as mãos, e respirando fundo, foram ao encontro daquela estrela, que mesmo sem ter tido tempo de mostrar um Grand finale com a presença do seu pet, ia continuar brilhando na memória de cada um que a conheceu.

Snow sumiu por um tempo. Depois reapareceu. Estava deitado num dos lencinhos floridos que Aninha costumava usar.


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