Wednesday, January 05, 2022

"É o amor..."

 



, mas mesmo se sentindo aflita, meio desesperada, Júlia não deixava também de se sentir alegre e satisfeita com o que poderia estar lhe acontecendo.

Júlia reencontrou uma antiga paixão que vivera na adolescência. Jurava que não correria perigo algum pois estava muito bem casada e ele também. Seria um reencontro inofensivo, de velhos amigos, afinal fazia muito tempo que não se viam.

O máximo que poderia acontecer seria um abraço apertado. Com esse abraço apertado ela não esperava que fosse sentir tantas coisas. Um cheiro, o prazer com o jeito de lhe tocar, o aperto tão difícil de escapar, o despertar de um desejo. Júlia quis que o tempo parasse ali, naquele momento, naqueles braços. Ela reencontrou também com uma Júlia que pensava ter existido somente no passado.

Ao voltar para casa , Júlia foi tomar banho. Ficou lembrando de Bernardo, do quanto foi intenso revê-lo, abraça-lo...Seus pensamentos foram interrompidos pela visão de uma lagartixa na parede do banheiro, perto de uma falha do azulejo. Parecia esperar por algo, estava atenta ao buraco da falha quando de repente, dele surge uma barata. A lagartixa a ataca rapidamente e num golpe só, abocanha a sua cabeça. Júlia assiste a cena como se estivesse em transe, percebe as patas traseiras da barata ainda se mexendo enquanto aos poucos ia sendo engolida. Antes de sair do banheiro Júlia volta a olhar para a lagartixa que está imóvel na parede. Imóvel e mais corpulenta, observou. Também, depois de comer uma barata inteira, e de uma só vez! – pensou ainda espantada Júlia. É a natureza mostrando que as coisas simplesmente acontecem quando têm que acontecer, refletiu. A lagartixa nem se incomodou com a presença dela no banheiro, a fome falou mais alto que o medo. Ela não podia perder aquela oportunidade. Talvez tenha visto a barata entrar no buraco do azulejo e sabia que em algum momento ela ia sair. Por isso estava tão atenta, e assim conseguiu pegá-la.

Com o marido no trabalho, e filha na escola, a casa lhe oferecia inúmeras tarefas para fazer. Era só olhar para ver. Mas ela fingiu que não estava enxergando e pegou o telefone. Viu que Bernardo havia mandado mensagens. Júlia sentou-se na poltrona e ficou a se deliciar com o que estava sentindo. Será que ele sabia em que pé andava o seu casamento, e esperava atento ela ter forças para sair do buraco? Se tornando assim uma presa fácil?

Seu marido chega em casa com a filha , os dois dando risadas, e Júlia se vê invadida por uma admiração tão grande por eles que chega a ficar irritada. O rádio da vizinha toca uma música sertaneja enquanto ela recebe um abraço duplo. E o refrão da canção ressoa como se lhe explicasse o que eles, apesar de tudo, estavam vivendo:




 

 

 

No comments: