, mas mesmo se sentindo
aflita, meio desesperada, Júlia não deixava também de se sentir alegre e satisfeita
com o que poderia estar lhe acontecendo.
Júlia reencontrou uma
antiga paixão que vivera na adolescência. Jurava que não correria perigo algum
pois estava muito bem casada e ele também. Seria um reencontro inofensivo, de
velhos amigos, afinal fazia muito tempo que não se viam.
O máximo que poderia
acontecer seria um abraço apertado. Com esse abraço apertado ela não esperava
que fosse sentir tantas coisas. Um cheiro, o prazer com o jeito de lhe tocar, o
aperto tão difícil de escapar, o despertar de um desejo. Júlia quis que o
tempo parasse ali, naquele momento, naqueles braços. Ela reencontrou também com
uma Júlia que pensava ter existido somente no passado.
Ao voltar para casa , Júlia foi tomar banho. Ficou lembrando de Bernardo, do quanto foi intenso
revê-lo, abraça-lo...Seus pensamentos foram interrompidos pela visão de uma lagartixa
na parede do banheiro, perto de uma falha do azulejo. Parecia esperar por algo,
estava atenta ao buraco da falha quando de repente, dele surge uma barata. A
lagartixa a ataca rapidamente e num golpe só, abocanha a sua cabeça. Júlia
assiste a cena como se estivesse em transe, percebe as patas traseiras da
barata ainda se mexendo enquanto aos poucos ia sendo engolida. Antes de sair do
banheiro Júlia volta a olhar para a lagartixa que está imóvel na parede. Imóvel
e mais corpulenta, observou. Também, depois de comer uma barata inteira, e de
uma só vez! – pensou ainda espantada Júlia. É a natureza mostrando que as coisas
simplesmente acontecem quando têm que acontecer, refletiu. A lagartixa nem se
incomodou com a presença dela no banheiro, a fome falou mais alto que o medo. Ela
não podia perder aquela oportunidade. Talvez tenha visto a barata entrar no
buraco do azulejo e sabia que em algum momento ela ia sair. Por isso estava tão
atenta, e assim conseguiu pegá-la.
Com o marido no
trabalho, e filha na escola, a casa lhe oferecia inúmeras tarefas para fazer.
Era só olhar para ver. Mas ela fingiu que não estava enxergando e pegou o
telefone. Viu que Bernardo havia mandado mensagens. Júlia sentou-se na
poltrona e ficou a se deliciar com o que estava sentindo. Será que ele sabia em
que pé andava o seu casamento, e esperava atento ela ter forças para sair do
buraco? Se tornando assim uma presa fácil?
Seu marido chega em casa com a filha , os dois dando risadas, e Júlia se vê invadida por uma admiração tão grande por eles que chega a ficar irritada. O rádio da vizinha toca uma música sertaneja enquanto ela recebe um abraço duplo. E o refrão da canção ressoa como se lhe explicasse o que eles, apesar de tudo, estavam vivendo:
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